quinta-feira, 9 de junho de 2011

Praga moderna

O consumo exagerado e o descarte incorreto das sacolinhas plásticas vêm machucando o planeta e deixando poluídos os oceanos, o solo e o ar. Saiba quais são as alternativas que podem ajudar a reverter esse quadro


Elas estão ao alcance da mão em todos os lugares: farmácias, padarias, lojas e principalmente nos supermercados. Mas, por trás dessa "fartura" há um dado surpreendente. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a fabricação de saquinhos no mundo pode chegar a 1 trilhão por ano. E para onde vai tudo isso? O primeiro destino é bem conhecido: lixões e aterros. "Cerca de 10% de todo o lixo do país é formado por sacolas plásticas", afirma Jéferson Farias, engenheiro ambiental e coordenador de Meio Ambiente da Proactiva, empresa especializada em gestão integral de águas e de resíduos, de São Paulo. Como elas são feitas de um material derivado do petróleo, portanto, não biodegradável, chegam a permanecer no meio ambiente por até 400 anos, fazendo com que os problemas se alastrem assustadoramente. "Essa durabilidade tem um preço e quem paga somos nós", afirma Cláudio Jorge José, presidente da ONG Funverde, do Paraná, que combate seu uso desde 2004. "Por serem impermeáveis, elas impedem a passagem de água e de oxigênio, dificultando a biodegradação dos alimentos ou materiais recicláveis contidos em seu interior", diz o engenheiro-químico Telmo Ojeda, doutor em ciências do solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Isso sem contar os gases tóxicos, como metano, gás carbônico e sulfídrico, produzidos por micro-organismos, que vão parar na atmosfera assim que o material do plástico degrada. "Esses gases aumentam o efeito estufa e podem contaminar organismos", afirma Ojeda.

Em época de chuva, o estrago está feito. "Quando chove, o lixo que está na rua vai direto para os bueiros. Ali, o plástico bloqueia a passagem de água e entope tudo", afirma o especialista. O resultado você já conhece: enchentes, alagamentos e trânsito caótico, cenas corriqueiras nas grandes cidades.

Ainda tem mais: o que consegue passar pela tubulação do esgoto cai nos rios, lagos e oceanos. "Ao chegar nesses locais, ficam flutuando pela superfície e são facilmente ingeridos por animais como tartarugas e aves marinhas, que os confundem com alimento e morrem asfixiados", diz Jéferson Farias. Até na hora da fabricação há perigo. "Além do consumo de água e energia, o uso do petróleo e do gás natural, ambos recursos não renováveis, geram líquidos e gases tóxicos que podem contaminar o solo, a água e o ar", afirma.

É HORA DE MUDAR
Motivos não faltam para repensar sobre a real necessidade dos saquinhos em nossa vida. Dados da pesquisa Sustentabilidade: Aqui e Agora, feita em 2010, pelo Instituto de Pesquisa Synovate, em parceria com a rede de supermercados Walmart e o Ministério do Meio Ambiente, mostram que 60% das pessoas no país são a favor da proibição de sacolas plásticas. "Elas estão cada vez mais preocupadas com o futuro do planeta. Afinal, é nossa única moradia e temos de cuidar dele", diz Cláudio Jorge José.

É por isso que diversas medidas vêm sendo tomadas por governos e pela iniciativa privada para reduzir e até mesmo proibir o uso de sacolas plásticas comuns. Essa jornada ecológica também conta com o apoio da população que cada vez mais adere às novas alternativas. Dentre elas a adoção das retornáveis tem dado certo. "A ideia é reutilizá-las várias vezes ao longo do ano", diz Cláudio Jorge José. O resultado já pode ser comemorado. Segundo números do Ministério do Meio Ambiente, em 2007 a produção de saquinhos chegou a 18 bilhões de unidades, número que caiu para 14 bilhões no ano passado.

EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO
 
A mobilização contra o uso excessivo de sacolinhas plásticas já vem acontecendo no mundo há cerca de dez anos. Apesar de as discussões no país terem começado apenas em 2007, mais de 30 municípios brasileiros já adotaram políticas de redução e aumentaram as campanhas sobre o assunto. Por exemplo, ano passado foi criada a lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos que, entre outras medidas, obriga as prefeituras a estruturar a coleta seletiva em seus municípios num prazo máximo de quatro anos. Outra medida que colaborou para a redução do consumo foi a campanha "Saco É um Saco", criada em 2009 pelo Ministério do Meio Ambiente. Uma das ações foi distribuir mais de 195.000 sacolas retornáveis por todo o Brasil, além de orientar como cada um poderia ajudar. "Todas essas medidas visam o consumo consciente e o estímulo ao descarte", afirma Fernanda Altoé Daltro, gerente de produção e consumo sustentável da Secretaria do Ministério do Meio Ambiente.

E não é só: em março deste ano durante um encontro em São Paulo entre a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os supermercados foram apresentadas metas de redução. De acordo com Sussumo Honda, presidente da Abras, a associação se comprometeu ante o MMA a reduzir 40% do uso de sacolas plásticas até 2015. Alguns mercados foram mais ousados: o Carrefour pretende eliminar 100% até 2015 e a rede Walmart 50% até 2013. Uma das primeiras cidades a adotar medidas nesse sentido foi Xanxerê, em Santa Catarina. A ideia surgiu em setembro de 2008 e partiu dos próprios empresários da cidade. A mobilização foi feita junto aos comerciantes e à comunidade local em uma ação que reduziu em 96% o uso das sacolas na região, sem a necessidade de uma legislação municipal. Como? Todos os 29 mercados do município pararam com a distribuição gratuita de saquinhos e passaram a cobrar 0,19 centavo por cada unidade biodegradável, com o objetivo de incentivar o uso das retornáveis ou das caixas e sacos de papel. 

Jundiaí, no interior de São Paulo, também não precisou de leis para resolver o problema. No ano passado, a prefeitura fez um acordo com grande parte dos mercados da cidade e combinou que eles deixassem de distribuir sacolas plásticas comuns. No lugar, o cliente passou a ter como opção sacos biodegradáveis, bolsas retornáveis, caixas de papelão ou cestas. Essa medida eliminou 95% do uso dos saquinhos no município. 

Tantos exemplos não deixam dúvidas quanto ao futuro das sacolas plásticas. Cabe a cada uma de nós começar essa mudança. 

DESCARTE CERTO
Para onde vai a sujeirinha e os resíduos que acumulamos em casa? 
Os supermercados estão adotando, aos poucos, algumas alternativas: a primeira é utilizar sacolas que reduzam o impacto ambiental, como as biodegradáveis ou de compostagem (que pode virar adubo, desde que haja tratamento para isso), cujo tempo de degradação é de até seis meses. "Parte do material é feito de amido de milho, de mandioca ou de cana-de-açúcar e a outra por um plástico derivado do petróleo", diz o engenheiro-químico Telmo Ojeda. Ou então as oxibiodegradáveis, confeccionadas com o mesmo material da sacola plástica tradicional, mas com o tempo de degradação reduzido. "A diferença é que nelas são acrescentados aditivos como cobalto, manganês ou ferro, que aceleram a decomposição natural do plástico, que passa a ser de um a dois anos", afirma o engenheiro- químico. Mas lembre-se: o ideal é usá-las para descartar resíduos sólidos, como restos de comida e itens de higiene pessoal. E para saber se o mercado de sua região possui alguma dessas embalagens, observe na própria sacola se há uma indicação do material de que ela é feita. Os lixos, como metal, papel, vidro e embalagens plásticas, podem ser separados em caixas ou sacos de papelão e direcionados à reciclagem. 

POR UM MUNDO MELHOR 
Uma volta pelo globo e é possível perceber as inúmeras iniciativas inspiradoras que têm dado resultado em muitos países. Na China, por exemplo, passou a valer em 2008 uma lei que proíbe os varejistas de distribuir gratuitamente sacolas plásticas aos clientes, e quem desrespeitar leva multa! O valor não é nada amigável e pode chegar a 3 mil reais. Do outro lado do mundo, nos Estados Unidos, o Estado de Oakland determinou em 2007 que varejistas deveriam promover campanhas educativas sobre a importância do uso de sacolas retornáveis e também apresentar alternativas para o uso, como créditos e descontos para os consumidores que trouxessem sacolas retornáveis. Além disso, foi proibido distribuir sacolas plásticas comuns nos mercados, sendo possível escolher somente as de papel ou as de compostagem. 

Em Bangladesh, surgiu em 2002 uma lei que proibia a produção, a comercialização e o uso de sacolas plásticas comuns na cidade de Dhaka. Mas a medida não se sustentou. Após oito anos e meio de banimento, as sacolas plásticas voltaram a ser vendidas e usadas em todos os mercados. Isso mostra que é preciso reeducar e conscientizar as pessoas para que a ideia pegue e não apenas impor medidas. 

Fonte: Bons Fluidos 05/2011


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