terça-feira, 20 de setembro de 2011

O recado de Al Gore no Rio de Janeiro

No 24 Horas de Realidade, o consultor em sustentabilidade e apresentador oficial do projeto liderado por Al Gore, Roberto Vámos, falou sobre a crise do clima pela qual a Terra passa e lembrou que sua solução está em nossas mãos. Saiba o que você pode fazer para transformar a realidade


Pode ser que, em algum lugar do universo, exista uma Terra onde a temperatura não está aumentando, as tempestades não se tornam mais devastadoras, as enchentes não causam mais estragos e as secas não matem plantações, animais e pessoas. Mas, infelizmente, isso não ocorre aqui. Na nossa Terra, passamos por uma crise climática de efeito destruidor. Mas a boa notícia é que as soluções para esse problema está em nossas mãos.

Essa foi uma das mensagens do Rio de Janeiro durante o evento 24 Horas de Realidade, realizado nos dias 14 e 15 de setembro, em 24 cidades de todo o mundo. A ação foi promovida pela ONG TheClimate Reality Project*, do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, e contou com palestras de especialistas em mudanças climáticas, transmitidas online, para mostrar que a crise climática existe e impacta a vida de todos nós.

Direto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o mundo todo ouviu Roberto Vámos, consultor em eficiência e sustentabilidade para negócios e apresentador oficial do The Climate Reality Project, que foi treinado pessoalmente por Al Gore. Segundo os organizadores do evento, cerca de sete milhões de pessoas visitaram o site até o começo da apresentação brasileira.

Vámos começou sua apresentação expondo eventos extremos ocorridos recentemente, como:
- a inundação que atingiu o Paquistão no ano passado e desabrigou 20 milhões de pessoas;
- a enchente do começo do ano na Austrália, que abrangeu uma área maior do que a Alemanha e a França juntas e afetou cidades inteiras;
- as chuvas torrenciais que caíram na China que inundaram regiões inteiras e afetaram 8,5 milhõs de pessoas;
- o super tufão Megi, que atingiu as Filipinas e o Tawain e causou a tempestade mais intensa da história, desalojando 350 mil pessoas, e
- a destruição causada em Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo, por conta das chuvas intensas que caíram no começo do ano.

"Infelizmente essas cenas se repetirão com mais frequência", afirmou Vámos. Ele explicou, também, por que as chuvas estão se tornando mais intensas em todo o mundo. De acordo com os cientistas, isso ocorre porque o ambiente em que as chuvas se formam mudou devido às atividades exercidas pelos homens. Ou seja, pelo aumento do volume de gases causadores do efeito estufa que lançamos à atmosfera. "Não só cientistas dizem isso. A companhia de seguros Munich Re, uma das maiores do mundo, afrima que a única explicação plausível para o aumento das catástrofes é a mudança climática", disse.

Nos últimos 200 anos, como explicou Vámos, a temperatura do planeta vem crescendo. Como a temperatura aumenta, mais água evapora dos oceanos para a atmosfera. Então a água que evaporou se precipita, na forma de chuva ou neve. "Acontece que o ar mais quente pode conter muito mais vapor d’água. Cada 1oC que aumenta, a capacidade da atmosfera de reter vapor d’água cresce 7%. E nos últimos 30 anos cientistas observaram que já há 4% mais vapor d’água na atmosfera", explicou. Assim, se intensifica o cenário de chuvas e nevascas mais fortes, causando enchentes maiores e mais frequentes.

Por outro lado, as secas também se tornam mais intensas em todo o mundo. "O mesmo calor que causa mais evaporação nos oceanos remove a umidade do solo, com ainda mais rapidez", disse. E lembrou de diversos eventos, como a onda de calor que causou queimadas na Rússia no ano passado. Por causa da fumaça tóxica que tomou o país, 50 mil pessoas morreram. Além disso, depois de quatro meses houve um aumento recorde no preço mundial dos alimentos, já que as exportações de grãos da Rússia, Ucrânia e Cazaquistão foram interrompidas após as secas e incêndios.

Roberto Vámos também criticou as pessoas que negam a existência da crise climática e dizem que não há um consenso cientifico sobre o aquecimento global. "Não é verdade. A realidade é que as academias de cientistas de muitos países confirmam que o aquecimento global foi causado pelos homens. O número de academias que rejeitam isso é zero", afirmou. E citou que algumas delas fizeram um anúncio conjunto de que a necessidade de ação para enfrentar as mudanças climáticas é urgente e indiscutível.

Portanto, segundo Vámos, os céticos do clima apresentam factoides para esconder a realidade e colocar o aquecimento como teoria e não fato. No entanto, 12 linhas de evidência mostram um aquecimento significativo causado pelo homem. Algumas delas são as mudanças no nível do mar, no volume das geleiras, no calor nos oceanos, na temperatura da superfície do mar e na extensão do gelo nos mares.

Mas, a boa notícia, segundo Vámos, é que encontramos algumas soluções. "Se um garoto de 14 anos pode construir um gerador eólico para iluminar seu vilarejo no Malawi, então podemos solucionar a crise climática", disse. Vámos citou projetos de energia eólica na China e no Brasil, além de um futuro promissor para a energia solar. Há iniciativas de conversão da luz em energia em lugares como Serra Leoa, Marrocos, Espanha, Estados Unidos e Vaticano. O último país já instalou painéis solares e quer ser o primeiro carbono neutro do mundo. "Outra boa notícia é que a capacidade voltaica instalada nos Estados Unidos dobra a cada ano. Isso quer dizer que o custo tem caído e que novas usinas elétricas a carvão estão sendo canceladas", comentou.

A energia geotérmica, que usa o movimento da terra para gerar eletricidade, também já é usada em larga escala nas Filipinas e na Islândia, onde mais de 50% da geração de energia vem desta fonte.

No Brasil, Vámos destacou o posto no bairro carioca Barra da Tijuca, que abastece carros elétricos com energia do sol. Mas lamentou que o país esteja sob ameaça de facilitar o desmatamento de suas florestas com a possível aprovação no Senado do novo Código Florestal (leia Cientistas são contra mudanças no Código Florestal)

Então, diante dessa crise climática, o que podemos fazer para lutar pela sua solução? Ajudar nesse caminho foi um dos objetivos do 24 Horas de Realidade e, como em outras cidades, o representante do Rio de Janeiro deu suas sugestões. Veja algumas delas e procure fazer o que possa para mudar nossa realidade:
- Manifeste-se: ganhe a conversa, não deixe os céticos ficarem sem contestação e use a mídia social e tradicional para erguer a sua voz. Você pode, também, participar de ONGs como o The Climate Reality Project, a Iniciativa Verde* - indicada por Vámos - ou muitas outras que atuem pela educação ambiental da população e contra o aquecimento global;
- Aprofunde seu comprometimento como consumidor: faça escolhas que reduzem o seu consumo de energia e considere o impacto ambiental dos produtos que compra;
- Não desista: diga aos líderes que esse assunto é de suma importância, apoie aqueles que agirem para solucionar a crise climática ou fique contra aos que impuserem barreiras.

"Essa é a única Terra que teremos, amaremos e cuidaremos para os nossos filhos e filhos deles", advertiu Vámos.

*The Climate Reality Project
*Iniciativa Verde

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