quinta-feira, 31 de março de 2011

O impacto das smart grids nas cidades

Seremos todos geradores: no futuro, com externos,
até prédios residenciais vão produzir energia


O mundo rico começa a descobrir as smart grids, redes elétricas inteligentes por meio das quais o consumidor pode gerar sua própria energia e vendê-la no Mercado – a novidade também vai chegar aqui

Imagine-se em 2020. Você chega em casa, depois do trabalho, e vai direto para a cozinha conferir, em um medidor digital, se o consumo de energia elétrica está dentro da meta diária que você mesmo traçou. A luz verde indica que sim. O aparelho também revela que, naquele momento, o preço do quilowatt-hora está no pico. Você, então, manda sua filha desligar a prancha de cabelo e seu filho sair do videogame. A boa notícia é que você gerou tanta energia elétrica a partir do sol — graças ao painel fotovoltaico instalado no telhado — que neste mês sua conta de luz vai ficar ainda mais barata. É possível que, no próximo verão, você gere mais energia do que consome e, assim, venda o excedente. Você vai, então, dormir feliz — não sem antes programar o aparelho de ar-condicionado e a lavadora de roupas para ligar durante a madrugada, quando o preço da energia é menor. Toda essa inovação começa a fazer parte do planejamento do sistema elétrico brasileiro — e se baseia em um conceito batizado de smart grids (redes inteligentes, em inglês). "Nos próximos dez anos, nossa rede elétrica vai sair da pré-história", diz André Pepitone, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

"Será uma revolução comparável ao surgimento do celular na telefonia." A tecnologia dará ao consumidor o poder de decidir como e quando consumir energia — e até gerá-la, a partir do vento, da luz solar ou de gás natural. As empresas que operam o sistema, por sua vez, serão capazes de identificar problemas em tempo real, sem ter de esperar o chamado do cliente. Quando uma árvore cair sobre a fiação da rua, o fluxo de eletricidade interrompido será remanejado a distância pela distribuidora para outras linhas antes que técnicos cheguem ao local. "As smart grids permitirão que o fornecimento de energia seja mais eficiente, moderno, seguro e sustentável", diz o consultor Eduardo Bernini, sócio da Tempo Giusto Consultoria e ex-presidente da AES Eletropaulo.

As novas redes demandarão investimentos de, pelo menos, 15 bilhões de reais — basicamente aplicados na substituição, em todo o país, dos decrépitos medidores analógicos pelos modelos digitais, na instalação de sensores na rede e na modernização dos centros de controle das concessionárias. "As redes inteligentes vão solucionar boa parte dos problemas de energia elétrica nas cidades", diz Guilherme Mendonça, diretor de automação da Siemens do Brasil. 

Até lá, as cidades brasileiras conviverão com redes que demonstram operar no limite, incapazes de sustentar o aumento do consumo de energia — estimado em 5% ao ano até 2020. Os problemas se tornaram recorrentes principalmente nas linhas de transmissão que trazem energia das hidrelétricas.
Em fevereiro, a pane numa subestação sobrecarregada da estatal CTEEP deixou sem luz 2,5 milhões de clientes na Grande São Paulo. Dias antes, uma falha da estatal Chesf já havia deixado 14 milhões de consumidores na Região Nordeste às escuras. A indústria local estimou perdas de 100 milhões de reais com o apagão.

No episódio mais ruidoso, a falha em uma linha de Furnas deixou 18 estados sem luz em 2009. A duração dos cortes de luz aumentou nos últimos dez anos. Em 2000, cada brasileiro passava, em média, 17 horas às escuras. Em 2010, foram 20 horas por ano. "Na geração, não faltará energia para o país crescer", diz Nelson Hubner, presidente da Aneel. "Na distribuição, a qualidade não acompanhou, e estamos cobrando melhorias das empresas." Em todo o mundo, as smart grids são impulsionadas por razões diversas — inclusive a preocupação em produzir energia mais limpa. Na Alemanha, para reduzir a dependência do gás vindo da Rússia, o governo financia a compra de geradores eólicos. Nos Estados Unidos, as empresas querem cortar gastos com pessoal — já que, com a nova tecnologia, parte dos reparos pode ser feita a distância.

No Brasil, a concessionária fluminense Light aposta na nova rede para detectar em tempo real as tentativas de furto de energia — mal que drena 15% da energia fornecida. "Queremos também reduzir o consumo no horário de pico e aumentar a confiança do sistema", diz Pepitone, da Aneel. A agência estima que a rede inteligente permitiria ao país diminuir em até 10% o consumo de energia. Assim como lá fora, a expectativa é que o consumidor brasileiro sinta-se incentivado a produzir a própria energia. "Esse é um caminho para aliviar o sistema e reduzir a incidência de problemas", diz Adriano Pires, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Além de investimentos, a instalação das redes inteligentes requer a revisão da lei atual. Será necessário permitir que o preço do quilowatt-hora para o consumidor residencial varie ao longo do dia, de acordo com a demanda e com a oferta de energia. "Ao optar pela energia mais barata, o cliente ajudará o país a consumir menos", afirma Jerson Kelman, presidente da Light. Outra mudança em estudo permitirá que a energia produzida em casa, com geradores eólicos, solares ou gás natural, seja vendida pelo cidadão.
A Cemig e sua controlada Light iniciarão testes com medidores digitais neste semestre, com 3 000 clientes da cidade mineira de Sete Lagoas e de uma das 16 favelas pacificadas no Rio de Janeiro. O investimento no projeto é de 65 milhões de reais. As mudanças estão a caminho. Mas, até a idade da luz moderna, o país ainda enfrentará muitos anos nas trevas.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Tecnologia Limpa dá Lucro

A construção de uma indústria forte em tecnologias limpas pode transformar um país em liderança mundial. Já é possível observar o pioneirismo de alguns países neste aspecto, como é o caso da Dinamarca, com a energia eólica, e do Brasil, com o biocombustível, que já lideram o conhecimento sobre essas tecnologias sustentáveis, além da Alemanha, que já vem desenvolvendo com sucesso iniciativas para a produção de energia eólica e solar.

O relatório da Rede WWF prevê que os ganhos das indústrias que desenvolvem essas tecnologias devem movimentar 1.600 bilhões de euros em 2020, atrás apenas da indústria de produtos eletrônicos e automóveis, ocupando o terceiro lugar no ranking industrial. Para se ter uma ideia comparativa, já em 2007, as tecnologias de energia limpa movimentaram 630 bilhões de euros, mais que a indústria farmacêutica.

A receita das vendas de produtos de eficiência energética em 2007 foi mais de cinco vezes a receita dos produtos de energia renovável. Porém, isso deve se alterar significativamente em 2020, com a taxa de crescimento das energias renováveis em 15% ao ano, que representa três vezes mais do que os ainda respeitáveis 5% das vendas de produtos e processos ligados à eficiência energética.

"Avaliando estes dados, chega-se à conclusão óbvia de que os governos e a iniciativa privada devem investir em tecnologias limpas – com subsídios e recursos diretos, respectivamente. Primeiro porque se trata da segurança energética do planeta. Segundo porque é lá, na energia limpa, onde estará o dinheiro. Claramente, a partir de uma perspectiva nacional, há muito a ganhar e nada a perder ao investir em energia limpa", analisa Denise Hamú, secretária geral do WWF-Brasil.

Os bancos centrais podem ajudar, incentivando a inclusão do risco carbono no modelo financeiro. O acesso ao capital de risco também tem sido um fator para o sucesso da energia limpa nos países, que já estão buscando a liderança no desenvolvimento desse tipo de tecnologia. O relatório sublinha, também, a importância de se desenvolver um forte mercado interno para essas tecnologias. Isso permite às empresas experimentar, ganhar experiência e rapidez ao percorrer a curva de aprendizado, dando-lhes uma vantagem competitiva e dotando-as de referências e exemplos de projetos.

Os governos podem apoiar tais mercados domésticos com subsídios, energias renováveis, metas e políticas de contratos. Isso poderia beneficiar muitos países, como o grupo da União Europeia, que se classificou em 18º lugar no ranking do PIB, atrás da Alemanha, mesmo em termos absolutos, e do Reino Unido, que ficou com a 19° posição. Ilustrando as oportunidades perdidas, a Austrália, que desperdiçou uma vantagem inicial de seus técnicos em energia solar, está classificada em 28°. A China é o quarto país classificado em termos de vendas absolutas e sexto em vendas relativas ao seu PIB.

Para o WWF-Brasil, renunciar a estas oportunidades por causa do velho hábito de se utilizar combustíveis fósseis poluentes, em razão das fortes pressões do lobby da indústria tradicional é uma demonstração de que se está agindo contra os interesses mundiais.


Fonte: Construção Eficiente

terça-feira, 15 de março de 2011

Que tal morar em um apartamento verde?

Econômicos e ecologicamente corretos, os prédios verdes se utilizam de fontes renováveis, reciclagem e reaproveitamento da água das chuvas. Mas os atrativos vão além dos simples cuidados com o meio ambiente, eles refletem positivamente no bolso do consumidor


A água da chuva é recolhida em calhas para ser reaproveitada na irrigação do jardim. O óleo que fritou o bife no almoço, em vez de jogado pia abaixo, vai para um duto de coleta próprio, de onde segue para reciclagem. Medidores de água são individuais e a energia que aquece o banho e a piscina vem de fontes renováveis, como painéis solares. 

Seguindo padrões de construção sustentável, os prédios residenciais verdes se tornam, aos poucos, realidade nas principais capitais do país. E os atrativos vão além dos simples cuidados commeio ambiente, eles refletem positivamente no bolso do consumidor. Apesar de custarem mais caro no começo (entre 5% e 7%), os edifícios sustentáveis garantem economias consideráveis na conta de luz e no condomínio de até 40%. 

Quinto país no ranking global de prédios verdes, o Brasil conta atualmente com 26 empreendimentos residenciais em processo de certificação junto as duas únicas instituições no país que concedem o título de "construção verde". Dezessete pleiteiam o Leed, concedido pelo Green Building Council, e os outros 9 buscam a certificação Aqua, da Fundação Vanzolini. Já é possível encontrá-los nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Porto Alegre. 

"Os consumidores finais estão cada vez mais exigentes e buscam prédios com o selo", afirma Luiz Henrique Ferreira, engenheiro civil e diretor da Inovatech, consultoria responsável pelo condomínio True Chacará Klabin, primeiro residencial de São Paulo a receber a certificação Aqua para a fase programa. "A certificação enxerga aquilo que não conseguimos ver no estande de venda. Dá segurança ao comprador e credibilidade ao empreendimento", diz ele. 

Até agora, o filão do mercado de prédios verdes tem sido os empreendimentos comerciais. Pelo menos 50 edifícios deste segmento já foram certificados e mais de duas centenas deles aguardam o selo. O interesse empresarial se justifica. "Esse público leva em conta o custo com condomínio e conta de luz dos escritórios, além de agregar valor à marca", diz Marcos Casado, gerente técnico do GBC Brasil, braço nacional da instituição americana. "Já o consumidor comum ainda cultiva a ideia de que prédio verde custa muito caro". 

Mesmo sem uma demanda alta por parte do público consumidor, as construtoras apostam neste segmento, com os olhos no futuro. Em Porto Alegre, a Joal Teielbaum é responsável pelo primeiro residencial do Brasil a receber a certificação Leed, que deve sair nos próximos meses. 

O condomínio Príncipe de Greenfield, em Mont'Serra, bairro nobre da região, possui aquecimento d´água por painéis solares, telhado ecológico, coletores de água da chuva, iluminação eficiente, paisagismo com árvores nativas, coleta seletiva e uma séria de outras características que o tornam digno do título de verde. 

Todos os 53 apartamentos já foram vendidos, cada um custou em média R$ 350 mil, na planta. Hoje, segundo Cládio Teitelbaum, diretor de Qualidade e Relacionamento com o Cliente da empresa, há quem receba proposta de R$ 800 mil e se recuse a vender. "Para além do valor ambiental, sustentabilidade se traduz em ganhos econômicos", ressalta. 

A grande maioria dos clientes é de jovens solteiros ou recém-casados, na faixa de 30 e 40 anos. Para muitos trata-se do primeiro apartamento. Foi a combinação entre consciência ambiental e redução de custos com o condomínio que atraiu o advogado Sebastião Ventura Pereira da Paixão Júnior, de 31 anos. "Eu procurava um lugar que me garantisse conforto, economia e contato com a natureza. E apesar de todos os diferenciais do prédio, ele tinha preço muito similar ao de outros condomínios convencionais", diz. Nada mal para um primeiro apê.

fonte: Exame 14/03/2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tempestade solar pode afetar a Terra em 2013

Onda emitida pelo Sol pode causar destruição em massa de equipamentos eletrônicos - e levar a um caos tecnológico


Tudo o que usa circuitos elétricos, de carros a computadores, queima no ato. Celulares e satélites pifam, os meios de transporte param, a rede de energia dá curto-circuito e logo começa a faltar água e comida. Esse cenário apocalíptico pode acontecer - e causado pelo Sol. Segundo cientistas da Nasa e de outras instituições, que recentemente se reuniram em Washington para debater a questão, em 2013 o astro vai entrar num ciclo de alta atividade, o que aumenta a probabilidade de erupções solares. Essas erupções liberam muita energia. E, quando essa energia chega à Terra, provoca uma tempestade eletromagnética - que literalmente frita tudo o que tiver um circuito elétrico dentro. Seria um verdadeiro Dia do Juízo Final para os equipamentos eletrônicos. Os cientistas não sabem exatamente quando essa tempestade virá, ou qual sua força. Mas dizem que há motivo para preocupação. 

"O Sol está despertando de um sono profundo. E nossa sociedade é muito vulnerável a tempestades solares", diz o físico Richard Fisher, da Nasa. Elas já aconteceram antes. Em 1859, uma tempestade do tipo queimou as linhas de telégrafo na Europa e nos EUA. Hoje, o efeito seria muito pior. Um relatório assinado por cientistas de 17 universidades diz que a humanidade levaria até 10 anos para se recuperar de um grande evento do tipo. A solução é desligar tudo o que for elétrico antes da tempestade. Os EUA têm um satélite capaz de detectar a onda com um dia de antecedência - em tese, tempo suficiente para que as redes de energia do mundo sejam desconectadas.

Revista Superinteressante

terça-feira, 1 de março de 2011

WWF-Brasil lança campanha da Hora do Planeta

Com o slogan Apague a luz para ver um mundo melhor, a campanha Hora do Planeta 2011, da WWF-Brasil, foi lançada sexta-feira, em São Paulo. A ONG convida todos a apagarem suas luzes por uma hora no dia 26 de março, para provocar uma reflexão sobre o aquecimento global


Dia 26 de março é uma data especial para a sustentabilidade do planeta. A ONG internacional WWF convida todos a desligarem suas luzes por uma hora, das 20h30 às 21h30, para provocar a reflexão sobre o atual padrão de consumo e o aquecimento global. Realizada desde 2009 no Brasil, a Hora do Planeta* pressupõe o apoio de toda a população. Em anos anteriores, bares, restaurantes e cartões-postais do país, como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, aderiram à campanha. 

O apoio de grandes empresas também traz força para esta ação. Para apresentar a campanha e incentivar a aderência do setor empresarial, a WWF-Brasil* reuniu profissionais de mídia e marketing de São Paulo. Mauro Motoryn, diretor da agência 141 SoHo Square - que conquistou a conta da ONG recentemente e é responsável pela campanha publicitária - e Álvaro de Souza, presidente do conselho diretor da WWF-Brasil falaram sobre como o meio publicitário pode ajudar. Basta oferecer, para todos os seus clientes, a adesão à campanha, comprando espaços publicitários para divulgá-la (geralmente ONGs não pagam pela veiculação desse tipo de campanha em qualquer veículo editorial). Dessa forma, os veículos não deixam de ganhar e as empresas se engajam. 

Além de empresas e mídia, o governo também apoiará a causa. De acordo com Mauro, nesta semana a ONG assinará convênio com prefeitos de cidades com mais de 100 mil habitantes, para que eles incentivem a redução de energia na hora marcada. “Queremos bater o recorde mundial de adesão de cidades. É importante que o mundo perceba que o Brasil tem uma responsabilidade socioambiental forte”, declarou. 

As peças publicitárias (abaixo) mostram como apenas uma hora tem grande importância para o futuro do planeta. O tema da campanha é Apague a luz para ver melhor. “Essa frase não poderia ser melhor”, disse Álvaro. “Quando A Hora do Planeta foi lançada, muita gente entendeu que o objetivo era poupar energia. Mas não é isso! A intenção é chamar a atenção para os problemas ambientais”, explicou. Neste ano, a reflexão proposta é a redução do consumo, a reutilização de materiais e a reciclagem. 



Álvaro também ressaltou a importância de um alcance amplo para a campanha. “A palavra dessa iniciativa é abrangência. Se conseguirmos chegar a 12 milhões de casas - que terão reduzido seu consumo de energia, entre 20h30 e 21h30, no dia 26/03, com três pessoas por domicílio -, o resultado será ótimo”, disse.

E a campanha deste ano ainda terá uma adesão bastante animadora: as escolas de samba. "Quando apagamos as luzes e tudo fica mais silencioso, podemos ouvir nosso coração", explicou Motoryn, "Queremos, então, que batuques e tambores simulem as batidas de nossos corações nesse momento especial". Por isso, durante a hora marcada, escolas de samba se reunirão em três cidades brasileiras:
- São Paulo, com concentração na quadra da Vai-Vai;
- Rio de Janeiro, na Marina da Glória e
- Salvador, no Farol da Barra.